Vale a pena estar um tempo em Florianópolis. Está tudo lá, em tempo real, uma vez mais - por ser estudado como os geólogos estudam amostras de caudas de cometas para entender como chegamos até aqui. O passado no presente. E acelerado. Refiro-me ao modelo perverso de crescimento das grandes cidades brasileiras nas últimas décadas.

25 outubro 2008

Eleições 2008: Esperidião Amin e Dário Berger



‘Política’ é um palavra cuja definição mesma divide interlocutores. Podemos, contudo, apontar alguns traços gerais do que reconhecemos, na nossa tradição ocidental, como ‘política’: (a) o campo de ação do indivíduo relativamente à estrutura e aos destinos da coletividade de que faz parte (sobretudo desde Maquiavel); (b) o contexto no qual se organizam conjuntos de ideias acerca dessa estrutura e desses destinos (sobretudo desde a Revolução Francesa); e (c) o protocolo consensual mínimo em que se desdobram e são mediadas as tensões entre interesses discrepantes (sobretudo desde a consolidação da divisão dos três poderes republicanos).

Herdeiros dessa tradição que somos, os cidadãos da capital catarinense testemunhamos com satisfação o final da presente campanha eleitoral. Todos, não importando o resultado do pleito, teremos recebido parâmetros de orientação para sabermos quais critérios o vencedor seguirá na sua prática administrativa. Pois a boa-fé de ambos os altercantes finais levou-os a deixar explícitos, em argumentos sóbrios e claros, tais critérios. Pudemos identificar quem é conservador, quem progressista; quem acredita em reforço dos aparatos, espaços e transportes públicos, e quem deseja desregularizaro espaço de competição dos mercados; quem, enfim, tem como horizonte a universalização de oportunidades (política de expansão de classe), e quem, pelo contrário, naturaliza diferenças e a sua expressão estável no território (política "para os pobres").

Por um lado, quem passasse pela Beira-mar no dia 24 podia ouvir, em alto e bom som (aliás, de excelente qualidade), repassarem-se os pontos principais da cadeia argumentativa de D. Berger, que não parece abusivo resumir assim:
1. “É 15 é 15 é 15 é 15 é 15 é 15 é 15, ui ui ui”; e
2. "Agora é Dário, agora é Dário pra cuidar da gente".

Por outro lado, em equilibrada contraposição lógica ao sr. Berger – conquanto em estilo marcadamente diferente –, E. Amin também foi responsavelmente claro nos seus pronunciamentos. Resumamo-los em duas proposições características:
1. "Basta querer o melhor para a cidade, por amor a Florianópolis"; e
2. "Eu digo sim, e não deixo de sonhar".

Alguns de nós terão a sua visão política referendada no domingo, para posterior implantação. Outros não. Mas todos saberemos que pudemos escolher. Livre e soberanamente. Assim como livre e soberano foi o debate que nos terá decidido a levar o vencedor ao honroso, mas sobretudo obrigante, posto de servidor público máximo da municipalidade desta Capital – cidade de rica e corajosa história.

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