Vale a pena estar um tempo em Florianópolis. Está tudo lá, em tempo real, uma vez mais - por ser estudado como os geólogos estudam amostras de caudas de cometas para entender como chegamos até aqui. O passado no presente. E acelerado. Refiro-me ao modelo perverso de crescimento das grandes cidades brasileiras nas últimas décadas.

04 abril 2006

Tapete Preto sobre as nossas cabeças

A decisão de aplicar o dinheiro do contribuinte em mais um elevado, agora no Itacorubi, significa insistir num erro grave. As conseqüências do aumento de automóveis em circulação em Florianópolis já não escapam a ninguém: barulho, insegurança, poluição, ambiente nevrótico e agressivo para o pedestre e o ciclista. Facilitar a circulação de ainda mais automóveis resolve – do ponto de vista do motorista – situações emergenciais, como gargalos de trânsito. Contudo, a médio prazo agrava o problema de fundo. Será preciso reconhecer que há um limite para o domínio do automóvel sobre a paisagem, sob pena de termos de construir uma cidade elevada sobre outra – tapando o sol, as copas das poucas árvores e os ângulos de visão do horizonte –, ou então espalhar a mancha urbana por sobre todo o território, aniquilando de vez a chance das próximas gerações.


Florianópolis ainda tem tempo de evitar o pior, mas será preciso sair às ruas, juntar vozes e afirmar, claramente, a vontade de romper com a opção exclusiva pelo asfalto, decidida na década de 50. Queremos trens, ferry-boats, bondes modernos, ônibus, ciclovias, calçadas!

Que tal juntarmos gente que sabe que ingressamos na estrada para o inferno motorizado e que esteja disposta a IMPEDIR que se comecem a construir ainda mais viadutos? Ou alguém tem dúvida de que uma tal idéia já começou a ser atapetada naqueles cérebros da prefeitura que decidem? Estrategicamente, parece-me que é esta a nossa luta mais urgente no que se refere ao tema. Insisto: quanto mais se desafogarem os gargalos de automóveis privados hoje, mais automóveis privados se incentivará que saiam das garagens amanhã.

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